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sábado, 2 de abril de 2016

DANÇAS FOLCLÓRICAS EM PAU DOS FERROS



O Rio Grande do Norte, terra de Cascudo, de Deífilo Gurgel e de um folclore riquíssimo, tem, no âmbito das danças populares, grande destaque na cultura geral. Primeiro damos partida com a "famosa" Araruna, dança genuinamente norterriograndense, com traçoçs autênticos que a distancia das outras danças de roda e do côco. O Araruna existe desde 1949 quando o mestre Cornélio Campina, criador da dança, usava o quintal de sua casa para ensaios que ele mesmo organizava. Com o apoio de Djalma Maranhão e Câmara Cascudo, foi fundada a Sociedade de Danças Antigas e Semi-desaparecidas Araruna, em 24 de julho de 1956, a única do estado com sede e estatuto próprio. A dança Araruna propriamente dita é oriunda das danças aristocráticas de salão, de origem europeia, misturada com a valsa, polca, xote, mazurca e estilo popular de caráter folclórico. Os cavalheiros usam casaca e cartola e as damas, longos vestidos de saia rodada. Apresentam normalmente com 8 a 10 pares de dançarinos que executam diversos números, alguns de origem folclórica e outros não: Caranguejo, Bode, Besouro, Araruna, Camaleão Jararaca, Maria Rita, Xote Sete Rodas, Miudinho Mazurca e Maria Rendeira.

Com o falecimento do mestre Cornélio Campina, em 2008, no dia 13 de agosto, aos 99 anos, a lacuna deixada foi imensa e não preenchida até hoje. As imagens abaixo evidenciam o Mestre Cornélio Campina, bandeira do folclore potiguar.


                                                   





Descendo ou pulando para o outro lado do mapa, aqui bem pertinho de nós, em José da Penha, o Grupo de Xaxado Estrelas do Cangaço, viaja e se apresenta em festivais diversos levando nossa cultura mundo a fora, a 21ª Feira Internacional do Artesanato e o 14° Festival de Dança Folclórica do RN são exemplos de eventos que o grupo marcou presença nos últimos dias. A própria prefeitura municipal realizou, na última quarta-feira, dia 23, a Mostra de Artes e Espetáculos Populares na praça de eventos do município, na qual se apresentaram três grupos de Cablocos, numa completa festa de preservação cultural e identidade.

Andando mais um pouquinho na tromba do elefante, encontramos Major Sales, praticamente a capital do Folclore do RN, cidade destaque em todo o país, com os Cablocos e o Rei de Congo, a cidade é uma bandeira de identidade cultural e de reverência ao folclore. A cidade produz concursos de cablocos e realiza festividades anualmente, atraindo estudiosos e entusiastas culturais. Quem carrega esse legado nas costas é Francisco de Assis Silva, o Mestre Bebé, que mantém viva, junto com parcerias e com uma equipe, a tradição oriunda do século XIX na cidade. 

                                                                            Mestre Bebé

Os grupos de Cablocos e Rei do Congo do Mestre Bebé são destaques por todos os recantos. Além de concursos e certames vencidos, apresentações no Brasil inteiro são somadas no currículo. O grupo foi cogitado para abrir os jogos da Copa do Mundo de 2014 em Natal, no estádio Arena das Dunas e recentemente representou o RN no 51° Festival de Folclore, em Olímpia-SP. É de encher os olhos, bater no peito e dizer: eu tenho identidade, eu valorizo minhas raízes e minha cultura. Na foto abaixo, integrantes do grupo seguram as bandeiras do Rio Grande do Norte e do município de Major Sales, no evento no Estado de São Paulo.


E Pau dos Ferros? E Pau dos Ferros? Pau dos Ferros não têm essas manifestações culturais? Existem ou existiram danças folclóricas em nossa cidade? Quem vivencia a cidade hoje imagina que não. Que não existiu, que não existe, que não existirá. Se vê quadrilhas estilizadas com produções luxuosas que descaracterizam as tradições regionais, aqui vai um salve para o grupo do Bairro Riacho Meio, na pessoa de Mazaropi, que resistiu ao tempo e às mudanças superficiais e manteve o sertanejo e a figura do matuto vivos em sua apresentações. Se vê até cover de Michael Jackson, se vê os Street Dance da vida, e mais e mais reproduções das culturas hegemônicas. Mas e nós? E as nossas? Estão nos livros velhos, nos baús do esquecimento, roídas pelas traças da politicagem e dos desgovernos, ou talvez do seu lado, no olhar e no coração da pessoa mais simples, seu pai, sua mãe, seu tio ou seu avô.

No livro "Pau dos Ferros à sombra da oiticica", o autor alerta para a existência de danças folclóricas nos anos 40, como Pastoril, Maneiro-Pau e Reisado. O Pastoril foi liderado por se Lindolfo Noronha e Dona Cotinha, já o Reisado tinha como principal haste, seu Tomé Anastácio, no Sítio Gangorra, hoje município de Rafael Fernandes. Todavia, o grande destaque e a dança mais popular era o Maneiro-Pau, oriunda do cangaço, possivelmente nascida na região do Cariri Cearense, não só em Pau dos Ferros, mas em toda região, foi a dança e manifestação artística mais praticada em meados do séculos XX, sendo a principal marca folclórica das épocas passadas. É uma dança de roda, brincada exclusivamente por homens (isso na época), tendo como característica o uso de bastões de madeira entrechocados para acentuar a nota do canto. Há um "puxador", que precisa ter a veia poética e inventar versos e frases momentâneas para tornar a brincadeira mais dinâmica. Os que participarem da brincadeira vão entoar o coro: "maneiro-pau, maneiro-pau", ou outros coros sugeridos pelo puxador.

O Sítio Maniçoba, o Sítio Tigres, Várzea Alegre e até o CCP (Clube Centenário Pauferrense) eram palcos de exibições do maneiro-pau nas épocas passadas. -Perguntem a seus pais e a seus avós...! E é na Maniçoba, palco dos tradicionais forrós de Cicinho Queiroz, e no Sítio Poço Comprido, que o Maneiro-Pau dá seus raros suspiros, e através de pessoas como Maria Nascimento, conhecida como Bebem, e seu João Negreiros, a cultura da dança, mesmo que timidamente, se mantém viva. Bebem realiza todos os anos, em sua casa, a brincadeira do Maneiro-Pau e no ano passado, seu João Negreiros, 73 anos, figura muito conhecida em Pau dos Ferros por ter sido a vida inteira frentista do posto Segundo Melo, o Posto Esso, reuniu amigos e familiares para "jogarem" Maneiro-Pau no Sítio Poço Comprido. É uma completa reverência ao passado e ao folclore enterrado de nossa terra. O vídeo abaixo exibe a brincadeira realizada no ano de 2015 nas festividades do padroeiro do Sítio Poço Comprido, em nossa querida Pau dos Ferros.



Seu João Negreiros detalhou que chamou, junto com seu filho, as pessoas para brincar, foi sozinho à mata para cortar os bastões de violeto, essa é a madeira que produz o som característico e que dá vida à dança. Relatou ainda que antigamente era muito comum, desde o tempo dos seus 18 anos, e existiam vários lugares em que a dança era executada, com famosos puxadores como o poeta e ex-vereador aqui já biografado, João Pereira.  

Só nos resta agradecer e louvar esses abnegados que cultivam e defendem nossas raízes. Aprender com Major Sales e José da Penha e rezar, orar e invocar os deuses para que nossa cultura seja ressuscitada. Amém?! 



        Na foto acima, seu João Negreiro, responsável pela preservação da cultura do maneiro-pau em nossa cidade.


Por Manoel Cavalcante



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